Greta (2019); Direção: Armando Praça; Roteiro: Armando Praça; Elenco: Marco Nanini, Denise Weinberg, Démick Lopes, Gretta Sttar; Duração: 97 minutos; Gênero: Drama; Produção: João Vieira Jr., Nara Aragão, Armando Praça; País: Brasil; Distribuição: Pandora Filmes; Estreia no Brasil: 10 de Outubro de 2019;
O cearense Armando Praça estreia na direção com “Greta” – que teve sua première mundial em Berlim, aonde concorreu ao Teddy. Adaptando uma peça teatral homônima, o longa acompanha a relação de um enfermeiro homossexual sexagenário, que trabalha num hospital público, com um paciente em fuga. Ele estava se recuperando no hospital após um conflito, porém, à espera do cárcere. O enfermeiro interpretado por Marco Nanini começa a abriga-lo, desenvolvendo o início de uma relação conflituosa. Num cenário de pequeno apartamento, vira uma selva de sentimentos e elementos aonde Pedro, nosso personagem principal, precisa se despir das carcaças que o protegem de seus próprios dilemas, seus sentimentos.
O longa consegue trabalhar com uma cinematografia refinada, usando ao máximo sua ambientação, numa forma claustrofóbica, aonde seu apartamento oprime seus sentimentos, na mesma forma que o faz se libertar, conhecer seu corpo, o amor e as questões pelas quais Pedro sempre evitara. Outro fato peculiar: Pedro é fã da atriz Greta Garbo, projetando a si mesmo entorno da figura da lendária atriz. Em dado momento, ele pede para seus parceiros o chamarem por este nome, travestindo-se de uma feminilidade ao mesmo modo de uma admiração. Não se trata de um fetiche, mas sim uma libertação de sua própria figura, ao qual cometera inúmeros equívocos ao longo de sua vida. Pedro, portanto, não consegue olhar para si, precisando do escapismo para conseguir ser quem ele verdadeiramente é.
O encontro do enfermeiro com Jean, o jovem e galante criminoso, tira o sexagenário da zona de conforto. Ele percebe não só o desejo, mas também o afeto. Pedro precisa encarar a própria tristeza, a solidão, aceitar o efêmero da vida. É um longa de caráter poético, sobretudo ao perceber tanta profundidade entorno de seus personagens, seja o seu protagonista, seus parceiros ou mesmo sua amiga, que está doente, porém se recusa a tratar-se. Enfim, é um longa plural, aonde aceitação das limitações, dos sentimentos e dos próprios demônios, passa a ser prioridade.
Marco Nanini dá um show de entrega, ele se despe literalmente de qualquer limitação, assume seu corpo e sua sexualidade. Seus olhares conseguem dizer um universo de sentimentos e interpretações. Nanini é um monstro. Suas contrapartes também não decepcionam: Demick Lopes é uma revelação, ao mesmo modo que Denise Weinberg é um alento ao aparecer em tela. Mais interessante é perceber, em meio a tantos filmes de temática LGBT, nacionais e internacionais, acompanhar um que foca em personagens mais velhos, representando e compreendendo outras pautas, demandas e anseios. Sem dúvidas, é um frescor temático.
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