“Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes” (“Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves”, 2023); Direção: John Francis Daley, Jonathan Goldstein; Roteiro: John Francis Daley & Jonathan Goldstein e Michael Gilio; Elenco: Chris Pine, Michelle Rodriguez, Regé-Jean Page, Justice Smith, Sophia Lillis, Hugh Grant; Duração: 134 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Comédia, Fantasia; Produção: Jeremy Latcham, Brian Goldner, Nick Meyer; País: Estados Unidos; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia no Brasil: 13 de Abril de 2023;
Um dos muitos problemas em relação a adaptações de quaisquer mídias para o formato audiovisual está, muitas vezes, no fato de puro desinteresse dos realizadores para com o conteúdo original. Pior ainda quando há a ignorância quanto ao funcionamento de cada história dentro do seu próprio formato e mídia. São plataformas diferentes, e só tentar emular uma na outra é uma solução que fadou tantas adaptações ao fracasso e ainda continua a fazê-lo. Isso sem contar quando se acredita que apenas o nome de uma figura e a sustentação no fator nostalgia são o suficiente para carregar uma história. John Francis Daley e Jonathan Goldstein têm plena compreensão disso e depois de explorarem muito bem esse conceito em “A Noite do Jogo”, agora mergulham de cabeça numa adaptação honrosa, para dizer o mínimo, de uma das mídias mais difundidas na história. “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes” deixa claro, no entanto, que também não é somente essa compreensão em como se adaptar conteúdo entre diferentes plataformas, ou até mesmo só a paixão pelo conteúdo original, que tornam a produção automaticamente em algo digno de qualquer qualidade. Há muito mais em jogo, e um trabalho atento há todas essas necessidades resulta no que encontramos aqui.
Existem várias questões com as quais Daley e Goldstein conseguem lidar muito bem para entregar o resultado final de “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes”, a começar pela narrativa que rege o todo, no roteiro co-escrito por ambos os diretores junto de Michael Gilio. A história do filme é bastante simples e objetiva e entende como aproveitar elementos do RPG para estabelecer essa estrutura que leva o filme adiante. É tudo muito bem amarrado e conduzido, com etapas que com certeza se assimilam a de um jogo, mas transpostas perfeitamente para o modelo cinematográfico, elas se mesclam e tornam-se em algo singular. Se há algo nesse quesito que deixa a desejar, é a falta de se estabelecer um antagonista a altura não somente do que o filme se torna, mas que fosse uma figura desse universo mais ambiciosa no geral. É o ponto mais genérico do filme, até porque no quesito técnico, Daley e Goldstein tentam ser sempre inventivos, criando sequências empolgantes e que sabem fazer uso dos personagens e suas características e os desafios que encontram pela frente, não se contentando em entregar o padrão enlatado que atualmente é a identidade de muitas produções de sucesso em Hollywood.
Mesmo com um antagonismo de caráter genérico e de pouco impacto, e aqui falo em relação a principal ameaça de “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes”, não do personagem de Hugh Grant -este que claramente está se divertindo horrores no filme, da mesma maneira a qual diverte o espectador, o arco narrativo surte todo o impacto necessário e a razão disso é aquela pela qual o filme funciona também tão bem no todo: seu elenco. Se os personagens são bem utilizados pelos diretores, com estereótipos de RPG que ao mesmo tempo são funcionais e conscientes da ingenuidade de suas características, o elenco protagonista brilha ao lhes dar vida. A química e o carisma de Chris Pine, Michelle Rodriguez, Justice Smith e Sophia Lillis juntos em cena dá ao filme a oportunidade de ser algo além do que o esperado. É através deles que se encontra a forma perfeita de conspirar o todo do filme, estabelecendo uma conexão com o público que é sincera, ao mesmo tempo que entretém. Quando tudo isso entra em sinestesia, “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes” entrega uma aventura que, por mais que tenha características que já estamos cansados de conhecer, se sobressaí e surpreende de maneira emocionante. É como passar uma tarde entre amigos, que será lembrada da maneira mais querida possível mesmo após anos e anos.