“Drácula: A Última Viagem do Deméter” (“The Last Voyage of the Demeter”, 2023); Direção: André Øvredal; Roteiro: Bragi F. Schut e Zak Olkewicz; Elenco: Corey Hawkins, Aisling Franciosi, Liam Cunningham, David Dastmalchian, Javier Botet, Woody Norman; Duração: 119 minutos; Gênero: Aventura, Suspense; Produção: Bradley J. Fischer, Mike Medavoy, Arnold W. Messner; País: Alemanha, Estados Unidos, Itália, Malta, Reino Unido; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 24 de Agosto de 2023;
A Universal Pictures tem à sua disposição um vasto portfólio de figuras do cinema de horror que já marcaram época, mas parece estar sem rumo desde quando tentou lançar seu “Dark Universe”, que resultou num fracasso retumbante. Alguns anos depois, a ideia até parecia que iria para a frente com “O Homem Invisível” -estrelado por Elisabeth Moss (“The Handmaid’s Tale”) e um dos últimos filmes lançado nos cinemas antes da COVID-19 alastrar o planeta-, mas ficou por isso mesmo. Os grandes nomes do horror, portanto, tem dado lugar a apostas e, mesmo quando não é o caso, parece haver até um certo distanciamento. “Drácula: A Última Viagem do Deméter”, por exemplo, sequer tem em seu título original o “Drácula” que chega ao Brasil. Esse desprendimento podia até não ser, mas acaba soando como um receio quando nos deparamos com o resultado final do filme, que tinha tudo para dar certo: um diretor em ascensão, um elenco diverso e com nomes de potencial, e uma ideia que soa pra lá de interessante, ainda que seja um desafio adaptar para longa um capítulo avulso de Drácula. O Conceito, no entanto, encontra diversos entraves que vão minando qualquer possibilidade de que o filme se torne algo para além de uma experiência arrastada.
Muito disso se dá porque há um claro conflito entre os estilos que definem “Drácula: A Última Viagem do Deméter”, que tenta intercalar entre o suspense e a aventura. O problema é que ele não se define em nenhum momento como algum dos dois, e a tentativa de transitar dessa forma com seus personagens acaba se revelando bem enfadonha: nunca empolga o suficiente para estabelecer algum tipo de ação característica de aventura, assim como não consegue, na maior parte do tempo, gerar a tensão necessária para funcionar como suspense. A falha se dá principalmente pela forma como André Øvredal explora seu protagonista, o Deméter. Para além de um elemento narrativo constante, e também mal desenvolvido, não há criatividade para envolver o público através de qualquer mise-en-scène, afinal o espectador, assim como os personagens, estão confinados ao navio, mas não há qualquer geografia espacial na realização que ressalte esse desespero, as noções espaciais do filme são muito limitadas e, em contrapartida, limitam a seu próprio potencial. Não há muito suspense, inclusive, em relação ao antagonista, que decepciona por ter característica tão digitais que se faz mais caricato que assustador. Suas aparições são caracterizadas pelo excesso, e não por um caráter assombroso, como era desejado. No geral, “Drácula: A Última Viagem do Deméter” tem muito disso, dessa indefinição entre seus elementos e características, onde não adianta qualquer trama paralela para dar profundida a seus personagens, quando o próprio não se interessa por isso. Há todo um subtexto entre ciência versus religião/sobrenatural, mas é tudo tão superficial que parece apenas jogado para complementar a narrativa. E gera contradições, assim como seus personagens parecem por si só contraditórios dentro da narrativa, em mudanças que pouco ou nenhum sentido fazem. Por isso soa como um receio não se assumir completamente como um filme de monstro do Drácula, falta convicção do início ao fim e o resultado é um filme para lá de esquecível.