A diretora Maite Alberdi cria uma atmosfera de falso documentário, ora optando por uma linguagem ficcional (plano e contraplano, por exemplo), ora escolhendo a narrativa tradicional de documentário (entrevistas com familiares e com as próprias personagens). A mistura não é nova, vários/as realizadores/as já investiram em falsos documentários e obtiveram muito sucesso, porém a mistura, aqui, fica bastante invasiva e inapropriada. Primeiro porque a forma como a diretora mostra os/as protagonistas é como se eles/elas fossem peculiares, meio que mostrando “olha só, uma pessoa com Síndrome de Down consegue fazer isso, que fantástico!”. Segundo, há diversos abusos mostrados na película e não há nenhuma análise crítica. Pior, a história tenta te convencer de que estão fazendo favor a essas pobres criaturas, dando seis dólares por um mês de trabalho. Mas eles estão trabalhando, né? Já está de bom tamanho! Trabalho escravo, manda abraços.
Ademais, é visível como a produção tenta forçar alguns acontecimentos só para ficar fofo e bonito frente às câmeras, o que não só é um desrespeito com todas as pessoas que possuem Síndrome de Down, como também tira a naturalidade dos acontecimentos. Grande culpa disso é da linguagem que a diretora escolheu, falso documentário não foi uma abordagem feliz, ainda mais que é um tema delicado e que envolve pessoas que sofrem muito na vida, principalmente quando são criados como iguais a todas as outras pessoas, sofrendo as mesmas pressões como: “tem que casar, tem que ter filhos, tem que trabalhar”. Só que quando chega na hora do casamento, os pais não querem; ou quando cobram o preço cheio de um produto, sendo que cada um ganha míseros 6 dólares por mês. Até que ponto é igual? Infelizmente o filme não aprofunda essas questões; elas estão lá, porém a diretora prefere deixar tudo bonitinho e fofinho para esconder a aberração que está acontecendo.
Los niños é uma tentativa frustrada de falso documentário de um tema que merece o devido valor, principalmente porque é a realidade das pessoas com qualquer deficiência. Todo mundo fica tentando esconder as desigualdades, criando deficientes como iguais, todavia na hora de efetivamente exercer essa “liberdade”, apontam diferenças e, claro, impedem as pessoas. É como criar a expectativa da vida inteira de que você deve estudar para conseguir emprego e conseguir sustentar-se. Só que você é diferente, logo não receberá o salário equivalente ao de uma pessoa “normal” fazendo o mesmo trabalho. Não faz sentido. E continua-se a aplicar essa lógica meritocrática para todo mundo.