A Cor Púrpura” (“The Color Purple”, 2023); Direção: Blitz Bazawule; Roteiro: Marcus Gardley; Elenco: Fantasia Barrino, Taraji P. Henson, Danielle Brooks, Colman Domingo, Corey Hawkins, Gabriella Wilson “H.E.R.”, Halle Bailey, Louis Gossett Jr., Phylicia Pearl Mpasi, Ciara, Jon Batiste, Aunjanue Ellis-Taylor; Duração: 141 minutos; Gênero: Drama, Musical; Produção: Oprah Winfrey, Steven Spielberg, Scott Sanders, Quincy Jones; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 07 de Fevereiro de 2024;

A Cor Púrpura 02
(Imagem: Cortesia da Warner Bros. Pictures)

É extremamente significativo que “A Cor Púrpura”, lançado em 1985, seja o recordista empatado de indicações ao Oscar sem sequer uma vitória em qualquer categoria. Foram 11 indicações ao Oscar de 1986, e zero vitórias. Era a forma da Academia deixar claro que não interessavam histórias de emancipação negra, especialmente feminina, recebendo tal reconhecimento -mesmo se contada por brancos. É um fato curioso, mas não surpreendente, e um indicativo de que Steven Spielberg, diretor da versão original e produtor do remake, cometeu tantos acertos quanto erros, mesmo em meio a controvérsias, pois é inegável que ele contava uma história que não pertencia a si, a sua etnia, e obviamente faltava ao filme muito mais tato em diversas questões. No entanto, é também inegável que sua produção detinha uma realização cinematográfica do escopo que a grandeza de tal história merece. “A Cor Púrpura” de Blitz Bazawule parece ter a intenção justamente de completar essas lacunas e dar a oportunidade de a história ser contada justamente por aqueles a quem pertence. Contudo, ao invés de aproveitar os melhores caminhos já apresentados pela versão original, esse remake em formato de musical opta por escolhas que nos fazem questionar quem achou que seriam uma boa ideia?

A Cor Púrpura 05
(Imagem: Cortesia da Warner Bros. Pictures)

Ser um musical acredito que pouco influencia nessas escolhas, porque existem diversos momentos no filme, e na história, que se abrem para essa possibilidade, mas este “A Cor Púrpura” raramente se aproveita disso para criar algo incisivo ou impactante, é só mais um número musical atrás do outro que não soam nada inspiradores. Muito porque não há sequer dinamismo narrativo para construir esses momentos, pois é um filme com um ritmo desregulado e tons conflitantes, que encontra dificuldade até mesmo em como retratar a passagem das décadas nas quais acontecem a história. São diversas escolhas estéticas questionáveis, e óbvio que esperar algo visualmente próximo ao que Spielberg é capaz de entregar chega a ser covardia com outros, no entanto, é decepcionante a pobreza imagética do filme de Bazawule, acometido pelo cinza e um exagero de tons pastéis, bem como se tornando mais uma vítima da fotografia escura demais que às vezes pouco ou nada se vê, perdendo a oportunidade de ressaltar a beleza de seu elenco e seus personagens através de um olhar que tinha todo o direito de esbanjar a raízes afro-americanas em cada cena possível, resultando num filme que se acovarda da responsabilidade justamente de ser mais ousado.

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(Divulgação/Imagem: Warner Bros. Pictures/Eli Adé)

E no todo “A Cor Púrpura” é uma versão muito amenizada tanto em comparação a versão original, quanto ao livro de Alice Walker, e mostra extrema timidez na hora de abordar qualquer tema mais sério, se tornando um filme praticamente chapa branca e que se debruça em explorar e desenvolver elementos que agregam pouco à narrativa no geral. Se atém a algumas tramas que tiram tempo de outras que poderiam melhor aproveitar e desenvolver a relação emocional com os personagens, mas fica tudo muito superficial, se tornando até desinteressante. Não há algo que nos faça se apegar a esse ou aquele personagem, inclusive a história da própria personagem interpretada por Danielle Brooks, indicada ao Oscar pelo filme, é completamente picotada e reduzida em relação a outras versões. Nem em seu maniqueísmo o filme consegue triunfar, porque ao teclar incessantemente na temática do perdão, toma decisões questionáveis. Assim, “A Cor Púrpura” se transforma em algo artificial, tanto visual como narrativamente, sem sequer conseguir estabelecer corretamente a tensão para os momentos derradeiros da narrativa, porque é tão irregular em sua construção que não é capaz de estabelecer gatilhos de antecipação. Uma história que é originalmente carregada de temas pesados acaba ganhando uma versão fantasiosa que esvazia isso quase inteiramente, numa jornada que parece incompleta porque se esconde dos debates mais incômodos e pertinentes.

A Cor Púrpura” – Trailer Legendado:

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