Crítica | Columbus

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Columbus (2017); Direção: Kogonada; Roteiro: Kogonada; Elenco: John Cho, Haley Lu Richardson, Parker Posey, Rory Culkin, Michelle Forbes, Jim Dougherty; Duração: 102 minutos; Gênero: Drama; Produção: Danielle Renfrew Behrens, Aaron Boyd, Giulia Caruso, Ki Jin Kim, Andrew Miano, Chris Weitz; Distribuição: Supo Mungam Films; País de Origem: Estados Unidos; Estreia no Brasil: 14 de Setembro de 2017;

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Kogonada ficou conhecido por seus vídeos ensaísticos divulgados principalmente através de seu perfil no Vimeo. Em Columbus encontramos aquele que é seu primeiro longa-metragem, e a qualidade de seus super-cortes refletem aqui a dedicação de alguém a uma arte em sua melhor forma. O poder narrativo e estético do longa é imensurável, exercendo uma força que teima em ecoar dias após o espectador se submeter a experiência de deslumbramento com o que resguarda a estreia do cineasta. Se num primeiro filme há tanta segurança, projetos futuros desde já passam a prometer tanto… contudo, é estranho pensar assim quando, por si só, Columbus acaba sendo de tal grandeza. Denso e num ritmo que se adequa aos seus personagens, a cidade título um destes, vamos aos poucos mergulhando em uma obra que os faz questionar não somente tudo aquilo ao seu redor, mas ao nosso próprio lugar no mundo, nos identificamos com essas figuras e passamos por um processo igual; sofremos das suas dores, compartilhamos de suas alegrias e da amizade que os protagonistas crescentemente nutrem entre si. Dois mundos opostos se colidem e há uma reciprocidade que faz tudo parecer tão similar, ainda que completamente divergente. No entanto, diferente do que possa soar, Columbus nunca se dá ao direito de ser piegas.

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Tal constatação se dá a partir da consistência que encontramos no roteiro, posteriormente complementada pela estética que Kogonada utiliza para dar vida a essa história. Faz parecer simples a maneira como é construída a narrativa e tudo aquilo que a habita. Aos poucos, porém, a riqueza em que se estabelece um e outro elemento, um e outro diálogo, e assim por diante, tece uma base que passa a ecoar cada vez mais forte sobre as atitudes que vemos os personagens tomarem. Não à toa o grande momento de Columbus, talvez, seja quando nos deparamos com uma linha de diálogo repetida, que ouvimos cenas antes, quase de forma aleatória. Subsequentemente entram em ação algumas das escolhas mais acertadas de Kogonada, e então encontramos invertida a percepção. Não mais observamos os cenários da meca arquitetônica que é a cidade, mas sim o próprio observador. O que resta é uma Haley Lu Richardson do outro lado da vidraça. Subtrai-se todo o restante e ela desanda a gesticular enquanto fala. Não precisamos de leitura labial, som ou qualquer fala para entender o que é expresso ali. Sentimos. Não à toa, também, podemos querer entender que nos encontramos diante de um reflexo, pois o encanto, naquele momento, é mútuo e imediato. Reconhecemos aquilo que faltava para nos darmos conta dos arredores.

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É naquele momento que Casey, a personagem de Richardson, olha com outros olhos para o que tanto admira. Mas é o Jin de John Cho que passa a admirar tudo aquilo. Essa sutileza com a qual os protagonistas transitam essas sensações e percepções entre si refletem muito do personagem de Cho, assim como de sua atuação. Há menos espaço para ser expressivo com seu personagem, e é sua sutileza que faz a diferença, construindo formidavelmente um personagem que dentro de circunstâncias atípicas precisa não somente lidar, mas aprender com o momento que enfrenta. É como se o que fosse esperado de si na Coreia, numa espécie de presságio pelo não cumprimento, o fizesse vagar por Columbus em um conflito existencial que aflora suas convicções. Há algo de diferente ou estaria diante do mesmo com o que sempre conviveu? As cores contam a história desses dois protagonistas opostos e é a vivacidade da juventude que reina sobre Casey, e Haley Lu Richardson, que já havia demonstrado seu talento em Quase 18 (The Edge of Seventeen), aqui rouba para si o filme. Em seu primeiro papel de destaque encontramos uma atuação completa, complexa. Uma personagem cuja tamanha segurança com a qual é moldada pela atriz faz com que Columbus gire em torno de si. Mas suas cicatrizes, seus conflitos, suas ambições, seus sonhos, todos fazem de sua existência tão pesada. Assim caminhamos, com personagem e atriz, do trágico ao gracioso, do alívio ao aperto desesperador no peito, em ter que dizer adeus.

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Columbus descarrega sobre o espectador mais do que é possível mensurar, ao menos numa primeira vista. É um caso no qual o retorno se faz mais que bem-vindo, pois cada quadro é visivelmente planejado milimetricamente, tornando essa uma obra cuja arquitetura é demasiada complexa para se compreender toda num único olhar. Assimétrica com certeza, ainda assim, em completo equilíbrio. Um trabalho que carrega tanta riqueza e transcende a tela em contato com o espectador, num misto de enérgica jovialidade e de peso do amadurecimento, um encontro no qual ponderamos, através desses personagens, como a vida é constituída por estes momentos de extremas mudanças, onde imutável nunca se faz uma opção e somos apenas passageiros em uma jornada que, muitas vezes, não nos damos conta de que é muito mais do que aparenta. Com Columbus, o agora cineasta Kogonada constrói uma obra completa, que fala tanto sobre seu realizador e, simultaneamente, consegue encontrar uma maneira de universalizar toda sua temática, mesmo que numa narrativa contida a uma cidade, mesmo que com aspectos tão pessoais. E não é essa, afinal, a chave para criar algo universal? Assim, Columbus se faz uma obra que precisa ser descoberta, apreciada sem moderação alguma e revisitada quantas vezes for necessário para se captar cada mínimo detalhe.

Trailer Legendado:

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