A Colina Escarlate (Crimson Peak, 2015); Direção: Guillermo del Toro; Roteiro: Guillermo del Toro, Matthew Robbins; Elenco: Mia Wasikowska, Jessica Chastain, Tom Hiddleston, Charlie Hunnam, Jim Beaver; Duração: 119 minutos; Gênero: Drama, Romance, Terror; Produção: Guillermo del Toro, Callum Greene, Jon Jashni, Thomas Tull; País: Estados Unidos; Distribuição: Universal Pictures; Estreia no Brasil: 15 de Outubro de 2015;
É difícil realizar um nato filme de gênero que quebre suas barreiras, não se prenda aos seus paradigmas e consiga elevar o público numa experiência singular. Tamanha dificuldade é multiplicada no gênero Terror, pelo simples motivo da generalização, praticamente todos os últimos longas são similares, com banho de sangue, violência gratuita e a mais clichê construção em carga dramática ou de suspense, aquele que nos dá calafrios mais com o que imaginamos e não vemos do que com o explícito. Guillermo Del Toro sempre demonstrou ser um realizador bastante autoral, priorizando dar relevância a sua marca do que ao gênero que empenha, sua filmografia é um reflexo disso, ele sempre teve um flerte com o esotérico e com o gótico, nada melhor então que coloca-lo em evidência plena com seu novo longa, A Colina Escarlate, que consegue ser uma boa peça do cinema de gênero. Contudo, como obra autoral e cinematográfica, deixa a desejar por um roteiro raso, beirando ao superficial, também tendo o azar de estar numa época mais exigente, devido a existência de outras alternativas mais instigantes da mesma temática, caso da série da Penny Dreadful (2014-2016). Um público mais audacioso, com maiores prioridades e exigências mostra maior maturidade e maiores desafios para os realizadores, estes que Del Toro sempre demonstrou estar preparado, visto ter nos surpreendido inúmeras vezes, talvez o problema aqui seja a falta de sintonia dele com os novos ventos que sopram.
No longa, Edith (Mia Wasikowska) se apaixona pelo misterioso e charmoso conde inglês Thomas Sharpe (Tom Hiddleston), se casando com ele e indo morar em sua propriedade na Inglaterra, no pico da colina título do filme, junto também de sua cunhada sinistra Lucille (Jessica Chastain). Porém, desde sua infância, a jovem vem sido alertada para tomar cuidado com a colina, sendo sensitiva aos fantasmas que esta mesma abriga, descobrindo aos poucos que há um sinistro mistério em torno daquela família aristocrática, ela acaba definhando fisicamente e psicologicamente, num tipo de tortura não explícita. São várias as sugestões do que está de fato acontecendo, mas nada é jogado ao espectador, somos induzidos a tirar nossas próprias conclusões, ponto até então interessante do roteiro, contudo seu terceiro ato é aquele dos mais simplórios possíveis, nos entrega tudo, sem pestanejar, indicando que o próprio roteiro se contradiz, vai contra si mesmo, a essência do filme em produzir um terror intimista, baseado na nossa própria monstruosidade como ser humano, nossos demônios internos, nossos fantasmas e esqueletos no armário… A justificativa principal refere como o Amor, o sentimento em si, pode ser tão corrosivo e destrutivo como o ódio, nos levando a cometer atos dos mais hediondos possíveis. Pode ser bizarro esse ponto de vista de Del Toro, porém vindo dele nada é demais. Seu problema também é ter um roteiro tão ralo, pouco desenvolvido, alguns personagens não tem sequer motivação para existir internamente, carece algo mais instigante e que nos eleve junto, nos faça tirar mais do que o básico da experiência.
A construção daquela Inglaterra vitoriana pesada, obscura e intimista é um dos pontos fortes do longa, fazendo a nós sentirmos diante daquela sujeira -e não só a moral- a trilha sonora e a fotografia aumentam a experiência sensorial, nos proporciona medo, suspense, emoção. O elenco está afinado, Tom Hiddleston e Jessica Chastain formam uma dupla incrível, o primeiro mostra o quanto tem a oferecer, indo muito além do vilão Loki dos filmes da Marvel, a segunda se reafirma como uma das mais promissores atrizes dessa geração, capaz de fazer muito com pouco, Mia Wasikowska, entretanto, peca por sua inexpressão e inocência, talvez o filme devesse ter uma protagonista à altura de seus outros personagens, com o mínimo de malícia e sagacidade, ela não convence e prejudica em muito seus parceiros em cena. Del Toro desempenha maestria como diretor, extremamente bem à vontade, brinca com o o goticismo de forma particular, mas realmente não tem muito a nos proporcionar, se Circulo de Fogo, seu último filme, já era vazio entorno de seu gigantismo visual, pelo menos era uma tentativa singular de nos mostrar um filme de monstros versus robôs inimaginável para aqueles que cresceram assistindo Power Rangers. Era sobretudo divertido, porém A Colina Escarlate não deixa de ser apenas vários quadros bem alinhados, bonitos de se ver, mas vazios em sua essência. O que não deixa de ser uma pena, visto o nome que o acompanha nos créditos.
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