Top Gun: Maverick” (2022); Direção: Joseph Kosinski; Roteiro: Ehren Kruger e Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie; Elenco: Tom Cruise, Miles Teller, Jennifer Connelly, Jon Hamm, Glen Powell, Monica Barbaro, Lewis Pullman, Bashir Salahuddin, Charles Parnell, Ed Harris, Val Kilmer; Duração: 131 minutos; Gênero: Ação, Aventura, Drama, Guerra; Produção: Jerry Bruckheimer, Tom Cruise, Christopher McQuarrie, David Ellison; País: Estados Unidos; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia no Brasil: 26 de Maio de 2022;

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(Divulgação/Imagem: Paramount Pictures)

Lá se vão quase 40 anos do lançamento de “Top Gun – Ases Indomáveis”, tempo suficiente para que Tom Cruise se tornasse, entre essas quase quatro décadas completas, um dos maiores nomes de Hollywood, quem sabe da história do cinema norte-americano. Um ator que se tornou referência como um expoente de sua arte/profissão. Tudo devido a sua entrega, diferente daquela a que geralmente estamos acostumados com atores fazendo para seus papéis, mesmo aqueles que exigem determinadas preparações. Isso porque não é segredo nenhum que Tom Cruise se prepara para os extremos, para os feitos mais radicais possíveis que seus filmes possam incluir. Ao longo desses anos, porém, é verdade que as produções que o ator protagonizou soam mais como variações de sua grande franquia, “Missão: Impossível”. E “Top Gun: Maverick” não foge disso, apesar de ter suas especificidades. Essa comparação, na realidade, nem faz mal ao filme, que entrega o que promete: uma experiência cinematográfica de escala épica, com adrenalina à flor da pele, como seu protagonista gosta. O problema é a comparação com o filme de 1986 de Tony Scott. Porque se há no discurso deste novo filme um debate sobre o efeito da passagem do tempo e a inevitabilidade do envelhecimento, chega a ser irônico o que é o filme em si.

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(Divulgação/Imagem: Paramount Pictures)

A promessa cumprida é o pleno entretenimento ao qual nos acostumamos ver da parte de Tom Cruise, a escala épica de “Top Gun: Maverick” é inegável. O escopo técnico do filme é seu grande trunfo, não só pela possibilidade de se filmar com maior facilidade as sequências aéreas e as batalhas entre os caças, mas também pelo quanto o filme exaure autenticidade ao colocar não só o protagonista, mas boa parte do elenco, para realizar suas próprias sequências. Enquanto aviões reais tomam o lugar do CGI que seria a escolha comum e regular em Hollywood. Dessa forma, a ação aqui é muito mais efetiva, muito mais imersiva, o que para um filme com tal objetivo é essencial. Não tenho a menor sombra de dúvidas que a melhor forma de se experienciar ao filme é em IMAX. A grandiosidade e o tom de tudo aqui se beneficiam das maiores e melhores telas e sons. Porque é um colosso nesses quesitos, e de fato é alucinante e até extasiante quando chegamos ao clímax do filme. A sequência de eventos que ocorre até culminar no embate final é algo único no cinema atual, ainda que Joseph Kosinski tenha suas limitações, é de tirar o fôlego.

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(Divulgação/Imagem: Paramount Pictures)

Assim como Jennifer Connelly (“Alita: Anjo de Batalha“) também é de tirar o fôlego toda vez que aparece em “Top Gun: Maverick”, mostrando que não é preciso alguém 20 anos mais nova que Tom Cruise para servir de interesse romântico ao ator em seus filmes. A atriz também dá um contraponto interessante ao protagonista, porque justamente o fato da maior proximidade da idade dos dois permite que haja um conflito de interesses e Connelly, justificadamente, exala e exerce algum poder na relação entre as personagens. Intencional ou não, também é um dos elementos que influencia nesse discurso do filme sobre a passagem do tempo e seus efeitos que surtem mudanças na maneira como o mundo encara o presente e o futuro. O passado, no entanto, parece sempre ser visto com demasiada nostalgia. Aqui, por exemplo, há a tentativa de emular o primeiro filme desde os créditos iniciais até a edição, onde a música tema (no original cantada por Berlin, neste por Lady Gaga) embala ao fundo, pouco a pouco e cada vez mais crescente, o romance entre a personagem de Tom Cruise e seus interesses românticos em ambos os filmes. Isso levanta uma série de questões sobre as escolhas de Joseph Kosinski para seu filme.

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(Divulgação/Imagem: Paramount Pictures)

Porque por mais que haja essa idolatria em “Top Gun: Maverick” ao filme original, Kosinski não é nenhum Tony Scott e, o que é pior, parece não ser capaz de tecer comentários sobre o que tornava o filme de Scott tão efetivo. Há uma repetição dos mecanismos, das imagens, dos sons, mas falta algo. É um afastamento que talvez seja inevitável em um tempo em que Hollywood parece lembrar seus tempos áureos de puritanismo. As imagens que Kosinski reproduz refletem muito bem isso, são limpas demais, cristalinas, uma estética de padrões ideias. Sequências de ação se fazem empolgantes com isso, é verdade, mas ao restante do filme falta algo, algo pulsante que não dependa da adrenalina artificial oferecida apenas pela autenticidade do que se vê atores praticando ao de fato pilotarem aviões, algo que não seja insípido porque, ao contrário do orgulho de panfletar ideais militaristas norte-americanos, não se tenha vergonha de assumir uma postura madura, até sexualmente, como nos simbolismos praticamente freudianos que potencializavam o primeiro filme, assim como o próprio homoerotismo que dava aos personagens do filme uma camada a mais de conflitos a ser explorada e surtia como efeito numa tensão que era muito mais efetiva com muitos menos recursos à disposição. Tom Cruise pode testar os limites de seu corpo e sua idade, provando que a aposentadoria, realmente, não vem hoje. E parece não estar nem perto. Mas o tempo mostra que precisamos encarar as coisas como elas são, caso contrário é só uma repetição imperfeita do passado, para o bem e, na maioria das vezes, para o mal.

Top Gun: Maverick” – Trailer Legendado:

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