Rocketman (2019); Direção: Dexter Fletcher; Roteiro: Lee Hall; Elenco: Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden, Bryce Dallas Howard, Gemma Jones; Duração: 121 minutos; Gênero: Biografia, Drama, Musical; Produção: Adam Bohling, David Furnish, David Reid, Matthew Vaughn; País: Estados Unidos, Reino Unido; Distribuição: Paramount Pictures; Estreia no Brasil: 30 de Maio de 2019;
Desde os primeiros materiais de divulgação, muitas dúvidas pairaram sobre “Rocketman“, cinebiografia do cantor e compositor Elton John, sobretudo após “Bohemian Rhapsody“, sobre o líder da banda Queen, Freddie Mercury, ter sido tão decepcionante. O diretor Dexter Fletcher comanda os dois longas -ainda que não tenha sido creditado pelo “filme do Queen“-, um dos motivos inevitáveis para a comparação entre os dois projetos. Felizmente, com plena liberdade de seu material desde a concepção, o “filme do Elton” acaba por ser uma grata surpresa.
O principal mérito de “Rocketman” é se assumir como um musical, ao invés de um filme com músicas. Faz toda a diferença, pois ele constrói números musicais de forma narrativa, expressando diferentes momentos e sentimentos da vida do cantor, em vez de simplesmente usar as músicas para contextualizar eventos marcantes em sua vida -como “Bohemian Rhapsody” o fez. Apesar de parecer um grande vídeo clipe em vários momentos, isso não soa prejudicial, pois as elipses e as transições conseguem ser bem construídas. Em determinados momentos, há um quê de “Grease” e dos demais musicais do John Travolta, e rende momentos marcantes, como a cena da música título.
Reginald Dwight (Taron Egerton) desde sua infância apresentou o dom de tocar piano e compor músicas com facilidade, apesar de ser repreendido e incompreendido por seus pais, ele sonha em ser um astro. A partir do momento que ele se junta ao letrista Bernie (Jamie Bell), inicia a ascensão daquele que se tornaria Elton John, um dos maiores cantores pop da história. É um dos poucos casos aonde a participação do biografado acrescenta, em vez de diminuir o potencial da obra. Não é uma cinebiografia higienizada e parcial, conseguindo dar uma personalidade genuína ao Elton John como personagem, mostrando como a aceitação de sua homossexualidade, além do vício em cocaína, afetaram sua trajetória.
Vale ressaltar como o roteiro de Lee Hall (“Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha“) foge do moralismo: tanto os vícios de Elton, quanto as frustrações amorosas dele são tratadas de forma natural, não vitimizando o personagem. O fator principal que justifica sua “queda” se dá pela relação altamente conflituosa com seus pais, desde a infância. Justamente aí decai o principal problema do longa, a forma caricata na qual é construída tal relação. A mãe de Elton, numa escalação equivocada de Bryce Dallas Howard (apenas nove anos mais velha que Egerton), é uma personagem maniqueísta, típica vilã de conto de fadas, que apenas quer se aproveitar do sucesso do filho. O pai (Steven Mackintosh) um típico personagem patriarcal, sem muito a oferecer. E a avó (Gemma Jones) açucarada de tão graciosa, da forma mais preguiçosa possível. O conflito entre Elton e sua família é tão fundamental na sua vida, porém, a forma construída soa tudo um tanto que banal, diminuindo, portanto, uma real questão.
Sobre a homossexualidade não ser um tabu no filme, com direito a nudez, sexo entre homens etc, me parece nada mais do que honesto com o público e o biografado. Ainda que a relação entre Elton e seu empresário John Reid (Richard Madden) seja tratada de uma forma superficial, transformando Reid no clássico clichê de amante infiel e empresário abusivo. Já a relação entre o cantor e o letrista Bernie, é construída de uma forma sólida, demonstrando a relevância de ambos na vida do outro.
A falta de personagens bem lapidados pode justificar pelo fato de ser um filme sobre e para Elton John. Não decepciona, portanto, seu personagem ser magnético e ofuscar tudo e todos ao longo da projeção. Um grande destaque, portanto, para Taron Egerton (que já demostrou carisma em “Kingsman“). Para além da aparência física, Egerton tem um entrega física absurda, fazendo de seu corpo força motriz da narrativa, com muita expressividade facial, além do mesmo optar por cantar e tocar piano em grande parte das cenas musicais. Se o ator não vir a ser laureado com indicações nas premiações, ao menos demonstrou ser um dos atores a se acompanhar, pois demonstrou ter um grande potencial.
Com grandes momentos, o grande triunfo de “Rocketman” é ter essência própria, para além do material já existente (as canções e o próprio Elton John como pessoa). Ainda que seja uma narrativa bastante convencional, da busca de redenção de um astro decaído, decorrente do deslumbre com o sucesso, o maior mérito do longa de Fletcher é ser honesto cinematograficamente e historicamente. Assim, tanto os fãs ávidos do cantor quanto os amantes de cinema vão sair satisfeitos, se tratando de um filme feito para todos.
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