Podres de Rico (Crazy Rich Asians, 2018); Direção: Jon M. Chu; Roteiro: Peter Chiarelli e Adele Lim; Elenco: Constance Wu, Henry Golding, Gemma Chan, Lisa Lu, Awkwafina, Ken Jeong, Michelle Yeoh; Duração: 121 minutos; Gênero: Comédia, Romance; Produção: Nina Jacobson, Brad Simpson, John Penotti; País: Estados Unidos; Distribuição: Warner Bros. Pictures; Estreia no Brasil: 25 de Outubro de 2018;
![Podres de Rico 02](http://cineeterno.com.br/wp-content/uploads/2018/10/Podres-de-Rico-02.jpg)
“Podres de Rico”, pelo menos por este que vos escreve, era um dos filmes mais aguardados do ano. A promessa de representatividade fazia desta produção uma promissora empreitada para dar autenticidade e personalidade a figuras que, em grande maioria das vezes, eram apenas estereótipos coadjuvantes em Hollywood. Aliás, é o primeiro filme de um grande estúdio norte-americano em 25 anos a ter protagonistas sino-americanos. Jon M. Chu têm em suas mãos, portanto, uma responsabilidade e tanto. Porque, além do elemento cultural, há toda uma narrativa que precisa funcionar por si própria, sendo que as duas precisam, também, convergir harmoniosamente.
Seria um feito e tanto, caso funcionasse. Contudo, o todo não orna por completo, longe disso. A verdade é que poderíamos situar o filme em qualquer cultura do mundo, dada a padronização tão ordinária pela qual se submete. Na verdade, se desdobra por completo para se fazer o mais simpático possível, e é esta a sensação com a qual se saí do filme. É difícil tecer muitos elogios, e tampouco sair dizendo que viu algo desagradável, ao menos a uma parcela cultural do público, porque tenta a torto e a direito ser isso, simpático. É decepcionante como desperdiça uma enorme e singular oportunidade.
![Podres de Rico 03](http://cineeterno.com.br/wp-content/uploads/2018/10/Podres-de-Rico-03.jpg)
Não há qualquer influência cultural em sua narrativa, a situação que os protagonistas enfrentam, da rejeição da abastada família entre a união de seu herdeiro com uma professora da NYU, é simplória assim. O pano de fundo pode ser alterado para qualquer cenário, de qualquer outra civilização, que não fará diferença alguma. É este ponto um dos pivôs para entendermos porque o todo não funciona, sendo que pouco no todo também funciona por si só. É tudo muito batido e não há pudor algum em, a todo momento, recorrer a clichês, dos quais o filme é repleto.
Assim, “Podres de Rico” é um filme cuja história já se viu inúmeras vezes antes e, o que traria de diferente para dar um quê de originalidade, não funciona porque descaracteriza-se dos traços mais fundamentais, literalmente se vende para a máquina hollywoodiana. Soa, por fim, como uma grande propaganda turística de Singapura. Entretanto, até o que é vendido aqui parece feito para acomodar o gosto estrangeiro, refletindo o quanto o filme propõe a se despir de seus traços culturais para ter a simpatia do espectador. Em seu âmago é, em grande parte do tempo, vazio de significado, até porque tem receio de investidas mais fortes em confrontos socioculturais.
![Podres de Rico 04](http://cineeterno.com.br/wp-content/uploads/2018/10/Podres-de-Rico-04.jpg)
Despido de confrontos que possam causar estranhamento cultural, o que faz é muito tímido, de fato lança um olhar norte-americano e ocidental sobre a história, para que qualquer um possa se acomodar. Não chega a ser constrangedor, porque segue à fórmula de seu gênero com bastante eficiência. Comove na medida certa, mas pouco faz para se destacar. Jon M. Chu é um diretor muito formulaico também, a decupagem que realiza aqui não inspira nenhum senso estético que crave uma identidade própria, sendo refém de uma direção nada inventiva e sem qualquer inspiração.
Contudo, não se pode deixar de elogiar o trabalho de Nelson Coates e Mary E. Vogt, respectivamente responsáveis um pelo Design de Produção e a outra pelo Figurino em “Podres de Rico”. Porém, ainda que excelentes individualmente, a maneira na qual o filme falha ao não conseguir integra-los como parte da narrativa, falha com estes próprios elementos e seus responsáveis, pois são trabalhos que estão ali apenas como ornamentos, são belíssimos e ricos em detalhes, mas tudo que Jon M. Chu consegue traduzir deles são estereótipos. O filme em si não conversa com as virtudes de sua produção, e vê esses elementos se sobressaindo aos demais porque parecem deslocados.
![Podres de Rico 05](http://cineeterno.com.br/wp-content/uploads/2018/10/Podres-de-Rico-05.jpg)
Ainda que Henry Golding (“Um Pequeno Favor”), que aqui estrela seu primeiro longa-metragem, esteja bem, seu personagem é demasiadamente insosso para que se estabeleça qualquer relação com o espectador. Assim, quem segura as pontas são as mulheres. Constance Wu, que interpreta Rachel Chu, está excelente, conquista o público a partir do seu carisma e consegue pleno controle do emocional do espectador durante o filme. Só faz frente a ela Michelle Yeoh, tanto que é o confronto entre as duas personagens o elemento mais envolvente em todo o filme, culminando na melhor e mais significativa sequência no filme de Jon M. Chu.
Contudo, na personagem de Michelle Yeoh também percebemos como o filme foge de embates maiores, quando aborda através dela, em alguns poucos segundos, o cristianismo, o abandonando logo em seguida e deixando por isso mesmo. Entretanto, é através da personagem de Gemma Chan que o filme escancara todo seu desperdício em ser mais contundente, tem todo um problema de construção moral na trama da personagem, que é confuso do início ao fim. Assim como o próprio “Podres de Rico” no todo, que se inicia com uma sequência no passado e nunca retorna para tocar nas questões morais estabelecidas lá atrás. É um filme que tinha tudo a dizer, mas opta por se calar.
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