Ridley Scott é um diretor com assinatura autoral graças a dois longas-metragens de ficção-científica, Alien – O Oitavo Passageiro e Blade Runner, respectivamente. Depois disso, ele não conseguiu emplacar nenhum sucesso que seja realmente marcante para o cinema como um todo, na realidade ocorreram filmes desastrosos que mostravam um amadorismo assustador, caso do horrendo Êxodos, lançado ano passado quase como resposta ao suicídio de seu irmão. Seu retorno ao gênero de ficção pode parecer uma esperança cega de que Scott ainda tem algo a oferecer, de fato, “Perdido em Marte” é um filme com poucas pretensões, divertido e belíssimo visualmente, mas carece justamente na falta de presunção do diretor, que transforma a experiência em uma aventura meramente esquecível, sem nada a proporcionar. No longa, um grupo de astronautas fazem uma missão de reconhecimento em Marte, contudo uma imprevista tempestade acaba forçando o cancelamento, deixando o botânico do grupo (Matt Damon) ferido, sua equipe acha que ele morreu e vai embora sem ele. Contudo, ele sobrevive e encontra-se a mercê de sua própria sorte, com recursos limitados e comunicação desastrosa, cabe ele enfrentar os limites da sobrevivência para retornar ao nosso planeta.

A premissa é boa, a construção de Marte é esplêndida, o vasto planeta ganha cores vivas o que dá um grande contraste com a morbidez do lugar. É uma experiência equivalente as aventuras de Julio Verne, indo além dos limites do possível, desvendando e reinventando as ideias de sobrevivência humana, porém são princípios comuns ao gênero que são apenas repetidos, o longa carece justamente de um sentimento genuíno e ousado que vá além de sua fórmula de bolo. Há também muitos personagens mal construídos, que vão e vêm sem grande funcionalidade central para a trama, na realidade a burocracia e os mimimis na Terra são para lá de desnecessários, a ação no espaço e no planeta vermelho são os pontos altos do filme, proporciona uma imersão do espectador, efeito similar que “Gravidade (Alfonso Cuáron)” proporcionou, contudo com muito mais presunção argumentativa. Ridley Scott pecou em seus últimos filmes justamente por propor debates em temas nos quais não tem muita propriedade, porém esse peca por não propor nada, absolutamente nada, além de entretenimento. Não que isso seja um grande pecado, mas para um realizador que se imortalizou por suas ficções, era de se esperar o mínimo de genuinidade e impacto para além do visual.

Há vários astros no elenco, muitos vindos da televisão, como Jeff Daniels, Kristen Wiig, Sean Bean, contudo nenhum que realmente tenha uma participação marcante. Jessica Chastain não tem muita relevância, o que é uma lastima por considera-la uma das atrizes dessa geração, Matt Damon consegue carregar o filme de forma carismática e empática, além de parecer um novo momento para o astro, que assume a maturidade (recém fez 45 anos), porém quer seguir com o protagonismo central. A relação de Marte-Humano, a forma colonizadora sem se basear nos princípios jurídicos comuns ao Sistema atual são outros aspectos interessantes, se devem sobretudo ao seu material original, mas devo reiterar que para uma obra desse porte é frustante a falta de liga entre a argumentação e seu roteiro, podendo atingir proporções épicas, mas ficando na margem do mais do mesmo. Infelizmente, faltou o autorismo e a pretensão que “Interestelar” de Christopher Nolan teve. Uma pena, mas ainda assim não deixa de ser divertido, ainda que vazio.

TRAILER LEGENDADO

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