Direção: Anthony Stacchi, Graham Annable

Roteiro: Irena Brignull e Adam Pava

Elenco: Ben Kingsley, Jared Harris, Nick Frost, Elle Fanning, Tracy Morgan

Estreia no Brasil: 02 de outubro de 2014

Gênero: Animação/aventura

Duração: 100 minutos.

O ano de 2013 pode ser considerado um ano fraquíssimo para as animações, nenhuma conseguiu ser extremamente marcante, houve um vácuo criativo até Pixar, estúdio de maior renome no meio, no qual padronizou a qualidade do gênero com uma temática universal, atingível para todos os públicos. Pois eis que 2014 viramos a página dos baixos títulos, temos um ano muito mais interessante, com animações de grande nível intelectual como “O Congresso Futurístico” e a divertida e vibrante continuação de “Como Treinar Seu Dragão 2”, agora direto do stop-motion, fui pego de surpresa por uma das obras mais despretensiosas e empolgantes do ano, uma animação de estirpe, carisma e grande debate a se fazer, essa é “Os Boxtrolls”.

Na longínqua e conservadora PonteQueijo, um vilarejo com toques vitorianos, há uma fixação por queijo e seus derivados por parte dos moradores, porém apenas a alta elite, portadora dos “chapéis brancos”, apresenta o direito de degustar os melhores produtos, mas a inércia da sociedade se dá pelo medo dos monstros denominados Boxtrolls, criaturas classificadas por assassinas e ladras do tão precioso alimento, habitantes dos subterrâneos, só que na realidade não passam de construtoras e com desejo de ajudar os cidadãos da cidade, indo até a superfície para adquirir materiais necessários para sobrevivência. Com isso, a trupe dos “chapéus vermelhos” é contratada a fim de erradicar a praga, tendo como estimulante o ingresso do líder nos setores mais altos da pirâmide, iniciando assim uma serie de eventos dos mais variados possíveis, mexendo com as estruturas de tal sistema.

O mais interessante é como o roteiro consegue ser tão recheado de intenções e assuntos, conseguindo abordar as mais variadas temáticas, atendendo a todos os públicos. Há uma notável discussão referente ao que se refere “luta de classes”, os anseios de uma classe dominada em passar a ser opressora, a falta de comunicação entre pais e filhos, a hipocrisia da sociedade no desejo de soterrar as minorias pelos desejos da maioria, o poder da oratória na construção de indivíduos, além da crítica direta perante os grupos elitistas, sempre contrários aos desmandos populares, favoráveis aos benefícios próprios e mimos. Ainda há espaço para reflexões filosóficas, sobre o relativismo entre a maldade e bondade, os princípios existenciais que regem uma sociedade, os “grilhões” acorrentadores da população em dogmas ultrapassados a permitir a manutenção de um regime excludente. Enfim, muito a se apresentar, porém não se perde e tão pouco tenta ir além, pelo contrário, respeita as limitações impostas pelo gênero -sendo uma animação comercial-, mas visa acrescentar ao máximo ao expectador, tornando a experiência agregável tanto as crianças quanto a seus pais.

Mesmo com todas as alegorias referente ao cinema digital, 3D e todos afins apresentados, veio do estilo stop-motion uma das animações mais singelas e robustas do ano, até dado momento, de um estúdio promissor, mesmo de Coraline (2009) e ParaNorman (2012), atingindo aqui seu ápice e plenitude. Trata-se de um longa bem feito, divertido, piadas que funcionam -mesmo dubladas-, personagens bem delineados e temáticas até universais, a induzir um mínimo de pensamento em questões importantes. É surpreendente e muito animador, principalmente por nos mostrar, após um ano tão fraco, o quanto o gênero de animação tem a oferecer, bastam os estúdios aproveitarem seu potencial e pensarem menos no lucro.

TRAILER DUBLADO

 

 

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