Direção: Asghar Farhadi
Roteiro: Asghar Farhadi
Elenco:  Bérénice Bejo, Taham Rahim, Ali Mossafa
Estreia no Brasil: 10 de Abril de 2014, na seleção do Festival Varilux 2014 de cinema francês 
Gênero: Drama
Duração: 130 minutos

O diretor iraniano Asghar Farhadi se tornou referência em retratar as relações entre distintas partes de forma crua, realista e direta. Em “O Passado”, isto não só é acentuado, como também o diretor cria em torno de seus personagens uma atmosfera de sufocamento, sentida pelo público que se torna um participante em meio aos embates retratados.

Vale ressaltar que não se trata de uma experiência digerível para todos, pois as mais de duas horas de duração são de puro diálogos com personagens que conflitam entre si. É um filme que se baseia não só em suas inspiradas falas, mas também em sequências de mais puro silêncio, onde um simples gesto ou expressão conseguem valer por um soco no estômago, um duelo de pura retórica e expressividade.

Logo de cara conhecemos Marie (Bérénice Bejo) que está se reencontrando com seu ex-marido (Ali Mossafa) a fim de consumar a separação judicialmente, assim ela pode se casar com seu noivo Samir (Tahar Rahim) e iniciar uma nova etapa de sua vida. Porém, aos poucos o convívio um tanto que forçado das distintas partes vai iniciando um colapso entre os personagens, colocando então a relação entre eles em evidência. Em determinado momento, Marie então se encontra em pleno conflito: em relembrar seu passado (representado por seu ex-marido), confrontar seu presente (a conturbada relação com suas duas filhas mais o enteado) e, consequentemente, refletir sobre seu futuro (o destino de seu novo relacionamento).

O roteiro assinado pelo próprio diretor consegue envolver o expectador, tornando-o um participante dos embates coletivos. Os diálogos são primorosos e conseguem ter um efeito destrutivo, usando ao máximo o poder da retórica. A direção do iraniano ainda consegue construir um clima de sufocamento entre os personagens, causando assim maior entrega e, em determinados momentos, uma explosão de sentimentos. Trata-se de um texto muito difícil que flui de forma pesada e dura, servindo como um retrato de o quão conflituosa as relações humanas podem ser, ainda mais havendo brechas, mágoas e eventos inacabados entre elas.

O elenco espetacular não recua um só minuto em relação a pressão do diretor. Bérénice Bejo, descoberta em O Artista (2011), está soberba, num papel dificílimo que requer um jogo de cintura enorme, porém a atriz não só tira de letra como proporciona uma expressividade gigantesca a personagem, conseguindo gerar uma mínima empatia com o público. Tahar Rahim é outra figura que merece destaque, pois ele consegue estar contido em cena, ao mesmo tempo que enche a tela, algo que poucos conseguiram fazer. A revelação aqui fica por conta da francesa Pauline Burlet (que representa a filha mais velha da protagonista), uma jovem atriz que não se intimida ao lado de veteranos e dá um show, mostrando o quão promissora e poderosa ela pode vir a ser.

“O Passado” consegue ser uma experiência extremamente sensível ao mesmo tempo que dura. Um retrato natural e direto de como os pilares de qualquer relação humana conseguem ser frágeis e inconsistentes, por mais sólidos que aparentam ser. É uma verdadeira joia do cinema que, infelizmente, passou batida em meio as temporadas passadas de premiações, conseguindo apenas ganhar a palma de ouro de melhor atriz no Festival de Cannes de 2013 -muito merecida, diga-se de passagem. Aos que resolverem embarcar nesse filme coerente e consistente devem ir de mente aberta, se deparando então com um filme extremamente tocante e, acima de tudo, reflexivo, o que ultimamente é um achado raro.

 

~TRAILER LEGENDADO~

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