Direção: John Carney
Roteiro: John Carney
Elenco: Mark Ruffalo, Keira Knightley, Hailee Steinfeld, Adam Levine, Catherine Keener
Estreia no Brasil: 18 de Setembro de 2014
Gênero: Comédia/Romance
Duração: 104 minutos
Com “Apenas uma Vez” (Once, no original), o diretor John Carney conseguiu unanimidade: encantou público e crítica, alavancando um filme independente ao posto de vencedor do Oscar de canção original -derrotando até o lobby da Disney. Se parecia ser um caso pontual, mera “sorte de principiante”, o realizador retorna ao cinema com “Mesmo se Nada der Certo” (ou Begin Again), no qual ele não só repete a mesma fórmula consagrada, usando musicalidade como linguagem principal entre os personagens, como também acrescenta mais solidez e artifícios, nos presenteando com a obra mais adorável do ano, até dado momento.
Dan (Mark Ruffalo) é um decadente produtor musical, não emplacando um novo sucesso há anos, se divorciando a contragosto de sua esposa (Catherine Keener) e estando ausente no crescimento de sua filha (Hailee Steinfeld), seu principal hobby é pular de bar em bar a fim de afogar as mágoas na bebida. Em paralelo conhecemos a promissora cantora e compositora Gretta (Keira Knightley), recém solteira de um relacionamento com um astro da música em ascensão (Adam Levine), encontrando-se em depressão e sem qualquer confiança de seu potencial. Eis que o destino de duas pessoas tão distintas, porém em estado similar, se esbarram, fazendo o produtor ver na jovem o passaporte para retornar ao sucesso, então ambos formam um grupo para gravar um CD, contudo tendo apenas gravações externas, nos ambientes do cotidiano, uma daquelas ideias de tão inusitadas que podem dar certo.
Assim como em Once, a musicalidade é linguagem predominante, aqui também sentimentos e expressões são cantadas em formas das excelentes músicas, não há romance meloso, o que existe é um realismo convincente, narrando o momento de dois indivíduos que buscam superar suas realidades limitadas, sobretudo pela falência sentimentalista dos respectivos relacionamentos, fugindo da vitimização e do drama. Outro elemento presente é a subjetividade da paixão, protagonistas tão distintos demonstram ser tão compatíveis, justamente por suas diferenças, porém nenhum ousa ir além, deixando ao expectador a torcida de um desfecho onde os dois consigam ficar juntos, mesmo sabendo dos empecilhos apresentados.
O roteiro de John Carney é envolvente, inventivo e bem construído, chegando a ser também uma ode de amor à música, visto a importância narrativa dada, mostrando a capacidade transformadora da arte, marcando momentos aparentemente banais em grandes acontecimentos, servindo, assim, de referência. Um grande exemplo dado é o uso da trilha sonora de “As Time Goes By”, canção eternizada no clássico Casablanca (1942), sendo um dos momentos mais marcantes da história do cinema. As músicas do longa também são originais e primorosas, todas usadas pelo diretor em momentos apropriados, representando os sentimentos e anseios dos personagens, não sendo propriamente um musical, apenas um filme no qual a música tem o papel principal pelo simples motivo de ser o trabalho dos protagonistas.
A química do elenco é sobressalente, é notório o quanto os atores estão se divertindo, com destaque para a dupla principal. Mark Ruffalo foge da caricatura e desempenha um de seus melhores papeis, reafirmando-se como um ator promissor, abrindo desde já expectativas para Foxcatcher, seu próximo filme que tende a ir pra próxima temporada de premiações. Keira Knightley, por sua vez, já mostrou com sua “Anna Karenina (2012)” seu retorno primoroso, com este aqui ela desempenha uma carisma singular, além de mostrar sua versatilidade como atriz, não necessitando sempre um vestido de época para ter seus melhores momentos, sendo assim uma atriz merecedora de mais atenção e, consequentemente, papeis dignos de seu talento. Referente aos coadjuvantes, temos algumas presenças interessantes, mas a mais chamativa éa presença de Catherine Keener, uma boa atriz sumida de grandes papeis, aqui tenta aproveitar a oportunidade dada, só deixa pena ver a carência de papeis de grande destaque.
Pode ser correto afirmar que “Mesmo se Nada der Certo” é a oportunidade do diretor e roteirista John Carney em recontar seu filme anterior, usando uma nova ótica, entretanto mesmo com as semelhanças este longa consegue apresentar sentimento próprio e carisma genuína, sendo uma das mais agradáveis e sensíveis obras deste ano. Um filme que vale se ver, ouvir e sentir, para no mínimo se apaixonar com uma produção tão espontânea e despretensiosa, nada deixa a desejar.
TRAILER LEGENDADO
http://www.youtube.com/watch?v=dCgMSehP4D0