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É irônico que dois filmes tão diferentes cheguem aos cinemas na mesma semana tenham grande favoritismo nesta corrida ao Oscar 2017. “La La Land – Cantando Emoções” e “Manchester à Beira Mar” são filmes completamente distintos na sua essência, se um se destaca pela tom otimista pautada pelas promessas da conquista dos nossos sonhos pessoais, o outro vai pra um lado pesado: a dor subjetiva, intimista, do luto. Manchester é uma experiência difícil. Sufocante em diversos momentos. Contudo, um belo e original estudo sobre o sofrimento, saindo do discurso maniqueísta e batido da superação como caminho de salvação, aqui o luto é sentido no DNA, praticamente conduz os personagens em suas determinadas vidas.  Justamente por isso, é curioso perceber a ovação na qual está sendo recebida.

O longa acompanha Lee Chandler (Casey Affleck), um zelador totalmente apático com a própria existência, leva uma vida tediosa em Boston, sem nenhuma responsabilidade a não ser ele mesmo. Um dia isso muda após seu irmão (Kyle Chandler) falecer subitamente, sendo obrigado a retornar para sua cidade natal, Manchester, a fim de cuidar de seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges). Entretanto, o passado de Lee vai aos poucos sendo revelado e mostrando o motivo dele ter se transformado em uma pessoa de difícil convívio, um luto tão grande decaiu sobre sua vida ao ponto dele preferir se desconectar de todas as pessoas para evitar qualquer eventual decepção. O interessante é que Patrick, que narrativamente poderia ser o contraponto à Lee, também sofre de algo similar, apesar dele levar uma vida normal com amigos e namoradas, ele não é alguém com grande conexão com os indivíduos, tanto que soa até como indiferente a forma como enfrenta a morte do pai. Ou seja, os dois personagens principais sentem-se deslocados e temerosos em confiar nos outros, em ser parte de uma relação familiar/amorosa/fraterna, por simples medo de enfrentar uma frustração, uma dor equivalente ao do luto, por isso optam simplesmente por não sentir, se fechando em seu círculo.

O mais grandioso no filme de Kenneth Lonergan é o fato de tanto Patrick quanto Lee saírem desse ciclo de individualismo justamente por serem forçados a conviverem juntos, se (re) conectando aos sentimentos e relações, mostrando como é possível –e doloroso – o tão sonhado recomeço, que mesmo sendo necessário, muitas vezes é inalcançável. E Lonergan aceita isso, que mesmo havendo instinto e anseio de romper com os traumas, as vezes não conseguimos, não por sermos fracos, muito pelo contrário. Porém por não aguentarmos a mera possibilidade de enfrentar tamanha dor novamente. É um abismo tão subjetivo, é difícil muito dos espectadores conseguirem sentir essa empatia, entretanto é um exercício necessário a ser feito.

É um trabalho de direção minuciosa, na construção e desenvolvimento de seus personagens, usando o cenário como elemento narrativo. Sentimos a geleira de Manchester em pleno inverno, que enclausura ainda mais seus personagens, vestindo “capas” de proteção que vão muito mais além que a proteção ao frio. Lonergan conta sua estória de forma intima, nos fazendo carregar os grande peso da existência de seus protagonistas, ao mesmo tempo nos faz livres para condena-los e não absolve-los de seus erros. Ele dirige seu texto de forma corajosa, não se perde aonde de fato quer chegar. Casey Affleck está em estado de graça, num papel difícil, um personagem bastante questionável, mas com uma sobriedade ímpar. Meu destaque fica para o estreante Lucas Hedges, que faz uma performance contida mas transbordante de emoção, um ator jovem para ficar de olho no futuro. Particularmente eu não entendi tantas ovações para Michelle Williams, que tem apenas uma cena marcante, ela encontra-se com competência no que lhe é dado, mas não é algo tão marcante assim. Kyle Chandler, por sua vez, é um ator tão subestimado, tem uma participação onde está em estado de graça, merecia mais louros.

Não é uma experiência fato, repito. Contudo, “Manchester à Beira Mar” uma experiência única, original e analítica sobre o luto e a depressão, instigando o espectador a empatia e também se livrar de preconceitos comuns na sociedade que depressão é “falta do que fazer” ou mero “vitimismo”, coisas comuns de se escutar. É uma experiência na qual é necessário ir com mente e o coração abertos.

TRAILER LEGENDADO

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