A Marvel, desde que se estabeleceu como estúdio, procurou construir um universo minimamente coeso entre seus filmes, sendo estes interligados em si em torno de uma trama central, ainda sendo estabelecida. O maior enfoque, até ano passado, foi pelos heróis com maior apelo com público, porém com “Guardiões da Galáxia” houve a ousadia de iniciar a expansão do universo para o terceiro escalão de super-heróis, os popularizando e apresentando alternativa aos principais figurões, podemos classificar isso como um tiro no escuro, levando em conta a volatilidade do público. Contudo, seria talvez um fiasco se não houvesse a preocupação em construir um roteiro bem estruturado que aproveite o máximo de personagens poucos conhecidos, os introduzindo como, de fato, grandes figuras, além de uma direção que tentasse elevar o produto para além de um filme de estúdio, sim como cinema propriamente. É basicamente esse sentimento que torna “Homem-Formiga” uma surpresa deliciosa de se assistir, uma diversão despretensiosa, bem feita e estruturada, conseguindo fugir do convencionalismo, servindo portando como um eficiente longa.

A trama gira em torno de Hank Pym (Michael Douglas), um geneticistas de renome que conseguiu fazer atos ditos como milagrosos no passado, porém foi sabotado em sua própria companhia por seu aprendiz Darren (Corey Stoll), ambicioso que visa usar da mais alta tecnologia para fins bélicos. Paralelamente, Scott Lang (Paul Rudd) é um ex-presidiário que tenta se estabelecer na sociedade para ficar mais próximo da vida, contudo acaba recaindo para o crime, furtando a casa do cientista, tendo como porte um uniforme capaz de diminuí-lo de tamanho. Eis que Hank escolhe Scott como novo aprendiz para torná-lo o homem-formiga, com capacidade de encolhimento, força equivalente a um projétil e controle sobre formigas, tudo isso para ele conseguir roubar uma super armadura que viria a causar o caos se comercializada, como deseja Darren. É uma trama simples, direta, sem firulas, mas bem executada ao ponto de construir seus personagens de forma linear, os dando grande personalidades, além de afirmar como um filme além de mero produto comercial, é um longa de super-herói que consegue percorrer pelo gênero do filme de assalto, com um humor peculiar, nem um pouco cínico quanto os três “homem de ferro”, é algo mais espontâneo, faz lembrar “O Grande Golpe/The Sting” (1970).

O Homem-Formiga não parece ser de fato um herói muito atrativo, particularmente eu estava apático para conferir tamanha aposta, mas graças a Edgar Wright, o potencial do herói foi multiplicado, o transformando em um personagem tão fecundo quanto Tony Stark, inclusive sua personalidade consegue ser tão marcante quanto ao homem de ferro ou mesmo o capitão América. Infelizmente, Wright não conseguiu permanecer na direção e ter seu roteiro integral executado, por diferenças criativas com o estúdio, porém é evidente como sua essência permaneceu e sobressaiu. O humor bem usado, as tiradas nem um pouco forçadas, os conflitos entre os personagens… Foram coisas assim que tornam o longa muito além do que um filme desse tipo pode ser, há ainda os tão festejados efeitos, o clímax com uma batalha final entre herói versus mocinho… Enfim, todas as alegorias comuns ao gênero, só que com o acréscimo de ser um filme realmente instigante, não só meras referências e gigantismo visual vazio, uma genuína diversão que nos remete aos mistérios dos anos 70/80, coisa nostálgica, ao mesmo tempo que paralelamente é atual.

O elenco está bem afinado, à vontade, faz tempo inclusive que não vejo Michael Douglas tão bem em cena, com visível química entre Rudd e Evangeline Lilly, interpretando sua filha, talvez o principal defeito fique por conta do vilão, um pouco maniqueísta e caricato demais, porém não ao ponto de prejudicar o conjunto da obra. O Homem-Formiga é uma grata surpresa, mais um longa que mostra a capacidade dos estúdios Marvel em fazer entretenimento de qualidade juntando aos requisitos comerciais, sem ser bobo ou decepcionante, como visto anteriormente nos principais blockbusters do ano (alô Jussaric World, Terminador 5..). Pelas referências, tiradas ao universo Marvel, tendo como desfecho duas cenas pós-créditos que nos deixam com gostinho de quero mais, o que posso dizer é que estamos prontos e ansiosos para a guerra civil e o que mais a Marvel possa nos oferecer, sem perder essa essência. Que venham os próximos!

TRAILER LEGENDADO

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