A Netflix vem conquistando merecido espaço e relevância no ramo do entretenimento graças às originais séries, sendo produções bem feitas, com inegável qualidade e sobretudo liberdade criativa, livrando dos desmandos de estúdios burocráticos que muitas vezes vilipendiam o trabalho de seus realizadores para se adequarem a comodidade de certos públicos ou meramente lucrar. A série “Grace e Frankie (2015)’, felizmente, foge do convencional, não se curva a convenções e se torna mais um acerto bem sucedido do serviço de Streaming, trilhando caminho para novos públicos e remodelando conceitos referentes a “comédia para a família”.
Grace (Jane Fonda) é uma respeitável aposentada, vivendo uma vida luxuosa, no mundo da lua, com um casamento de fachada com Robert (Martin Sheen), advogado ainda na ativa tendo como parceiro Sol (Sam Waterson), marido de Frankie (Lily Tomlin), uma hippie adepta ao naturalismo, vivendo uma vida oposta ao de madame. A vida convencional das duas é abalada drasticamente quando seus respectivos maridos resolvem enfim assumir o romance homossexual entre os dois, se separando das esposas para se casarem, impacto que abala a família e seu meio social, forçando quase que um exílio das duas abandonadas na praia. Os mundos adversos das duas se chocam de imediato, porém ambas necessitam ter pulso e se reinventarem para reconstruírem suas vidas, iniciando assim uma nova fase. Um dos fatos interessantes da série é pelo fato de incentivar justamente o “reinício” da vida para pessoas idosas, rejeitando a ideia de término de vida após determinada idade, é também um retrato de como casais vivem no meio de máscaras sociais, não reconhecendo um ao outro em seu íntimo, relatando o fato das convenções da sociedade corroerem as relações e nos limitam de sermos quem somos. Só pelo fato de mostrar um casal homossexual “saindo do armário” aos 70 anos já mostra ser um roteiro de respeito, contudo não é um texto que se baseia no pressuposto de modernidade, tem como base a necessidade da auto-aceitação para a condução plena da vida.
Os diálogos são recitados pelo soberbo elenco composto por veteranas: Jane Fonda e Lily Tomlin em perfeita sintonia, conseguem conquistar o público com suas personagens no mínimo curiosas, mesmo que o expectador se irrite com o jeito de alguma das duas, dificilmente não irá se identificar com ao menos uma situação delas. Martin Sheen e Sam Waterston complementam com performances carismáticas, bem à vontade em cena, interessante ver dois atores maduros não terem medo de interpretarem qualquer tipo de personagem. A direção pode pecar por forçar em alguns episódios ir além do que de fato é, o que causa certo desconforto, há notoriamente um tom sério que não condiz com o jeito totalmente fora dos padrões da série, só que nada compromete o resultado final: uma produção bem humorada, com texto inteligente, reformulando o conceito de “família tradicional” e suas dinâmicas, algo bem agradável e divertido de se conferir.
“Grace e Frankie” deve ser considerada como uma ode à vida, independente de idade, estilo de vida, sexualidade ou identidade, os indivíduos devem se despir de máscaras e fachadas e viver com a cara limpa, tendo ou não que enfrentar adversidades. Uma série cômica consegue ser levada a sério com tal proposta, conquistando empatia e até emocionante em determinados pontos, visto ser uma produção extremamente humana. Mais um acerto da Netflix, fica aqui minha ansiedade por uma renovação rumo a segunda temporada, pois são personagens e dramas merecedores de uma revisão. A aguardar.
TRAILER LEGENDADO
*Os 13 episódios da série já estão disponíveis na Netlix em opção legendada ou dublada.
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