Direção: Luiz Villaça
Roteiro: Rafael Gomes, Leonardo Moreira
Elenco: Denise Fraga, Domingos Montagner,
Produção: Paula Consenza e Denise Gomes
Estreia: 07 de Abril de 2016
Gênero: Drama/Comédia
Duração: 105 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
São poucas as produções que conseguem retratar os relacionamentos amorosos de forma verossímil, tendo em vista, principalmente, a dificuldade de acertar o tom e, claro, encontrar um casal com química. De Onde Eu Te Vejo, no entanto, não encontra dificuldades com isso, uma vez que Denise Fraga e Domingos Montagner não só carregam a fita nas costas, como também, convencem nos seus conflitos, ainda que o fato de um ir morar na frente do outro após a separação possa soar forçado. Ademais, a maneira como tudo é conduzido, desde as inconstâncias nos pensamentos, até as convergências, corrobora para deixar a relação dos dois crível, e percebemos que isso funciona quando começamos a nos enxergar nos personagens, especialmente no momento em que precisam ceder, nem que seja o mínimo possível, para que suas vidas possam continuar.
Após 20 anos de casados, Ana Lúcia e Fábio se separam. Porém, ele vai morar no apartamento do outro lado da rua, o qual permite que um possa ver as atividades diárias do outro, de forma que o divórcio não acaba ocorrendo de forma completa. Essa situação nada impede que o casal comece a tentar encarar essa nova realidade. Além disso, os dois também tem uma filha adolescente na iminência de sair de casa para estudar em uma outra cidade, Fábio enfrenta uma crise no trabalho, enquanto Ana Lúcia passa por uma crise existencial. Enfim, os problemas são tantos, que, aos poucos, ambos vão percebendo que a forma pode ser um pouco diferente, mas o amor entre os dois, sempre foi o mesmo.
À primeira vista, De Onde Eu Te Vejo tem tudo para ser mais uma daquelas “dramédias” românticas, porém, conforme a narrativa vai se desenvolvendo, percebemos que trata-se de um longa incomum e, de certa forma, questionador. Como que duas pessoas que obviamente se amam resolvem se separar? Nem o próprio filme consegue nos dar essa resposta. Reparem que em nenhum momento nos é explicado os motivos que levaram ao término e, aparentemente, não há o que explanar. E isso resume as nossas vidas, nem sempre há uma explicação óbvia, aliás, na maioria das vezes só vamos entender o que de fato aconteceu depois de muito tempo, à medida que vamos adquirindo experiências.
E o mais interessante da produção é apresentar as questões atinentes aos relacionamentos em geral de forma complexa, mas, no fim, acabar, acertadamente, resumindo-as ao egoísmo. E aqui não me refiro apenas às relações amorosas, mas também às amizades. Uma união pressupõe um senso de “coletividade”, saber respeitar o outro e suas escolhas, contudo as vidas são tão corridas e tão distintas que, mesmo sem motivo, aquele que parecia ser o amor da vida, parece um estranho, no caso, “um estranho” que mora no apartamento do outro lado da rua. E é lindo como o diretor Luiz Villaça lida com essa simbologia ao separar o casal.
E por fim, preciso ressaltar que a alma do filme se chama Denise Fraga e Domingos Montagner. É incrível como os dois tem química e conseguem convencem da situação pela qual seus personagens estão passando, saliento, principalmente, a cena em que eles estão voltando para São Paulo após levarem a filha para a nova cidade, sentimos a dor e o sofrimento junto. Sem mais, De Onde Eu Te Vejo é simplesmente um soco no estômago, acompanhado de um leve afago. Soco porque lida com a separação e a distancia de maneira crua e afago porque mostrar esperança na cumplicidade.
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