Direção: Neill Blomkamp
Roteiro: Neill Blomkamp e Terri Tatchell
Elenco: Dev Patel, Sharlto Copley, Hugh Jackman, Sigourney Weaver, Ninja, Yo-Landi Visser
Produção: Neill Blomkamp e Simon Kinberg
Estreia Mundial: 6 de Março de 2015
Estreia no Brasil: 16 de Abril de 2015
Gênero: Ficção Científica/Ação/Aventura
Duração: 120 minutos
Em um futuro nada distante em que a repressão e a intervenção militar se mostram cada vez mais populares, surgem os policiais robôs (qualquer semelhança com Robocop não é mera coincidência, explicarei mais tarde) cuja violência e eficiência atingem níveis bastante interessantes para um mundo como aquele. A criminalidade reduz drasticamente, há uma maior sensação (momentânea) de segurança, porém isso não é o suficiente para o gênio por trás desses robôs. Deon (Dev Patel) quer mais. Ele quer que as máquinas tenham consciência; possam ter sentimentos; possam ser humanos. E ele consegue. Com os “restos mortais” de um robô polícia, o cientista transfere essa inteligência artificial e cria Chappie que num primeiro momento se assemelha muito a uma criança, mas com evolução e aprendizado extremamente rápidos e eficazes. Bem, isso tem tudo para dar errado, ainda mais quando percebemos que as leis da robótica de Asimov não foram observadas.
Chappie tem consciência e, assim como os humanos, tem medos, receios, sentimentos. Porém, com a diferença de ter um corpo praticamente indestrutível. Os inventos de Deon geram inveja em um outro cientista/inventor com ideologias completamente diferentes. É ai que surge Hugh Jackman, no papel de Vincent, defendendo que os robôs devem ser controlados apenas por humanos e não podem ter qualquer tipo de inteligência artificial (se ambos tivessem lido Asimov, talvez a vida fosse mais fácil, mas daí não teria filme, então, ok). Na busca por provar sua tese, Vincent vai usar de todos os artifícios legais e ilegais para conseguir o que quer.
Então, ao ler a sinopse você provavelmente pensou: “olha que interessante, o filme vai abordar a discussão: robôs podem pensar por eles mesmos ou eles devem ser exclusivamente controlados por humanos?”. Muito bem, você errou feio, errou rude. Na verdade, quem realmente errou (de novo) foi o diretor/roteirista, pois infelizmente a película vai, sem mais nem menos, para um caminho totalmente diferente: Chappie acaba sendo sequestrado, junto com Deon, por uma gangue que vai ensinar o simpático robô a roubar, matar e tudo mais que Deus não permite. Sinceramente, logo no início, cheguei a pensar que estava defronte a uma das produções do ano, tendo em vista a complexidade que eu estava vislumbrando no enredo; eu estava equivocado, todavia.
Mas, antes de jogar as minhas frustrações, vou, mais uma vez, bater palmas para as intenções de Neill Blomkamp. Em Elysium (referência aos campos elísios da mitologia grega) tínhamos uma cristalina crítica à segregação social tanto econômica quanto racial, na qual os pobres eram fadados à morte num planeta sem chances de recuperação, ao passo que os ricos tinham todos os equipamentos e os acessórios de sobrevivência na plataforma. Em Chappie, o criador vai além dessa dicotomia rico x pobre na tentativa de mostrar que a situação é muito mais profunda que essa antítese. O questionamento está nas nossas escolhas, ou melhor, nas escolhas que foram feitas por nós. O robô, logo após ter sua inteligência incorporada, é uma evidente analogia aos humanos no momento em que estão em fase de formação. Portanto, quando Chappie é treinado pelos bandidos, verificamos como toda a situação é subvertida para que o androide pense que está agindo da forma correta, afinal roubar e matar está sendo ensinado como o certo a ser feito. Vou ilustrar isso com a cena em que o androide participa de um assalto: ele foi educado a atirar facas para que os inimigos durmam. Sim, ele achava que estava fazendo um bem aos policiais humanos. Essa inocência cessa quando ele percebe o sangue escorrendo dos agentes e, a partir desse momento, ele muda completamente suas atitudes, percebendo a manipulação. Isso, por conseguinte, me fez refletir sobre a forma como a maioria da população lida com crianças e adolescentes. Acredite em mim, é importante termos essa discussão, ainda que mínima, em um blockbuster, principalmente quando temos a eminência da aprovação de uma redução na maioridade penal em nosso país.
Bem, superadas essas preliminares, vamos para os aspectos mais técnicos. Apenas um sentimento descreve a minha sensação quando eu vejo uma boa ideia desperdiçada: raiva. Não consigo acreditar que mais um argumento genial do Neil Blomkamp vai por água abaixo em uma produção mediana para ruim. Enquanto ele poderia focar na discussão homem x máquina e nas questões sociais que eu apontei ali em cima, ele prefere fazer graça com o ciborgue que faz de tudo, luta, brinca, conta piada, usa colar, vira mano, vira assaltante, vira cientista. Só faltou fumar um beck, porque de resto…Ele até que acerta em uma que outra cena de ação, mas a maioria delas chega a ser anticlimática, sem falar no melodrama que é imprimido no final da película.
Nessa mesma linha, vêm as atuações. Dev Patel não convence como protagonista nem aqui, nem na índia. A despeito d’ele não ser um ator ruim, aqui ele se supera na “ruindade” (claro que o personagem também não ajuda muito). Não há um mínimo de carisma, quiçá uma identificação com o espectador. O mesmo pode ser dito de Sigourney Weaver, em um papel completamente descartável, com claras intenções de reformar a sua casa. E, por fim, Hugh Jackman como vilão não desce nenhum pouco. O pior é que ainda ficamos torcendo por ele, tendo em vista a chatice de Deon. Chappie, entretanto, é o destaque do filme. A voz de Sharlto Copley funciona perfeitamente no robô. É carismática, lembrando em alguns momentos o C3PO de Star Wars.
Contudo, existem algumas poucas coisas boas a serem ressaltadas antes do fim. Para quem curte filmes com essa temática mais robótica Chappie é quase um fan service. Referências, referências e mais referências. Tem Metrópolis, tem Robocop, tem Wall-e, tem Gigantes de Aço, tem Big Hero. São muitas, mesmo! E, sim, estão bem inseridas na narrativa, não parecem forçadas, apesar de serem bem evidentes – para não dizer escancaradas. Na mesma linha estão os efeitos especiais que sempre foram e seguem sendo um ponto forte do diretor que os utiliza de forma bastante competente para contar a história. O destaque vai para Chappie, é claro.
No fim das contas, este é sem dúvida, o pior filme de Blomkamp. A montagem, assim como o roteiro, é completamente perdida, não decide aonde quer chegar. Em um momento nos leva para um caminho, depois altera, e, no final, é algo completamente diferente. Além disso, é frustrante ver uma ideia tão interessante e, de certa forma, original não ser aproveitada ao extremo, ou melhor, ser subestimada pela produção que opta pelas decisões mais fáceis e populares. Diante disso, meu medo com relação ao novo Alien só vai aumentando, conquanto as minhas esperanças ainda estejam firmes e fortes em Niell Blomkamp. Só o tempo dirá.
TRAILER LEGENDADO
2 Comments
Marcello Morgan
Moço, vem cá, não por nada, mas você sabe que existe uma coisa chamada imaginação e que, para cada mundo que a imaginação cria, nem todas as leis são as mesmas, né? Não é porque as leis da robótica de Asimov dizem que robôs não podem ferir humanos, que as leis robóticas criadas para o mundo de Chappie devem ser as mesmas. Universos ficcionais diferentes, permitem coisas diferentes. Até porque, se fossemos considerar "leis", então o Dobby deveria ser um elfo mais alto, com cabelos compridos e lisos, uma aparência mais humano e bela, como a dos elfos no Senhor dos Aneis. O cinema é formado por universos infinitos, assim como os livros. As pessoas tem que ter liberdade pra criarem o que quiserem, com suas próprias leis, gerando novos conceitos e novas visões.
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