Confira a crítica em vídeo de Márcio Picoli, clicando no player acima! Aproveite e clique aqui para conhecer o nosso canal do YouTube.

O montador Daniel Rezende, indicado ao Oscar pelo seu trabalho com Cidade de Deus (2002), estreia na direção contando uma estória no mínimo curiosa: a ascensão do palhaço Bozo na televisão brasileira, saindo do terceiro direto ao primeiro local da audiência. Por questões de direitos autorais, o famoso palhaço encarnado originalmente por Arlindo Barreto virou aqui Bingo (Vladimir Brichta). A trajetória do ator Augusto é pautada em figuração em novelas e papéis irrelevantes em pornochanchadas comuns nos anos 80. Sua vida muda completamente ao conseguir a oportunidade de comandar o programa matutino como o palhaço título do filme, contudo seu sucesso estrondoso barra com seu crescente vício por álcool e drogas, além de acabar se ausentando na vida do filho. Augusto acaba por se tornar uma figura macabra de subversão e divertimento, um palhaço que por si só detém como principal piada sua própria decadência.

Palhaços ganharam um espaço como figuras medonhas, saindo do folclore para as páginas do terror. É nesse pressuposto que o trabalho de direção se baseia, querendo construir um personagem de várias nuances e em cima dele construir outro. Temos portanto o personagem Bingo e o personagem Augusto, cada um inicialmente, depende do outro. Na medida que a narrativa transcorre, temos a dicotomia entre os dois, transformando o recurso comum de crise de identidade em um bizarro desaparecimento da figura do ator diante do personagem – digno de filme de terror.

A direção de Rezende é de uma adrenalina ímpar, não só por conseguir construir de forma assertiva seus personagens e os dilemas entre si, mais também por conseguir adotar um ritmo adequado ao tom da narrativa. Alternando entre momentos de frenesi, de puro êxtase e momentos de maior desenvoltura dramática, dando oportunidade para o espectador ter empatia para com o personagem principal. Dá pra dizer que o diretor emula muito um tom do americano Martin Scorsese, sobretudo no seu recente O Lobo de Wall Street (2013), usando da subversão para enaltecer um protagonista tão dúbio.

É interessante que uma estória, aparentemente, banal consegue ser um instigante relato de degradação e superação, sem os clichês pressupostos em narrativas do gênero. O roteiro usa bons recursos para não cair em armadilhas impostas até pelo próprio biografado, visto que houve a exigência por parte do Arlindo Barreto em mostrar a sua conversão para o evangélico. Nem isso faz Bingo – O Rei da Manhã ser um filme comum, serve inclusive como um contraponto para as demais cinebiografias feitas aqui no Brasil, de modo convencional e até moralista. Aqui compete mais ao espectador julgar ou não as atitudes do ator.

Com uma atuação irretocável de Vladimir Brichta, talvez aqui no seu melhor momento de toda sua carreira. Ele consegue elevar uma caricatura natural em um palco para múltiplas identificações e interpretações, transformando seu personagem em uma figura multi-dimensional. Ainda há as participações iluminadas de Ana Lúcia Torres, vivendo a mãe do protagonista e de Emanuelle Araújo encarnando a dançarina Gretchen, no momento mais divertido do longa. Bingo, portanto, é uma experiência ousada, subversiva e divertida, deixando um gostinho de quero mais sobre o futuro do cinema de Daniel Rezende, que na sua estreia mostrou ser minimamente curioso. Que prossiga assim.

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