Pode ser um fato desconhecido para muitos, porém o icônico cineasta, pai da ‘Nouvelle Vague’, Jean-Luc Godard, ainda encontra-se em plena atividade como cineasta e realizador, beirando os 85 anos, permanecendo em constante ousadia e reinvenção com seu novo longa-metragem, “Adeus à Linguagem”, um filme no qual não se prende a nenhum limite linear de narrativa, se tornando uma experiência incrível para se apreciar no melhor formato possível. É uma obra abstrata, de múltiplos significados, que consegue encantar os espectadores que buscam nela uma resposta sobre assuntos delicados e pertinentes a condição humana.

O filme não apresenta qualquer linearidade, nenhum enredo pré-definido, por isso é complicado de se explicar, só vendo que se pode ter noção. Basicamente, o longa retrata cenas normais ao cotidiano, tendo como principais ‘personagens’, por assim dizer, um homem e uma mulher que entram em discordância constantemente, além disso há seu cachorro que aparece presenciar tudo, nesse cenário simplório, porque não dizer banal, que presenciamos uma experiência filosófica para além dos limites que o cinema pode proporcionar. Acredito que só um diretor com a maturidade de Godard poderia conseguir transformar o básico/fútil em debates tão fecundos sobre diversos assuntos presentes no dia à dia. O mais interessante é constatar em sua argumentação o uso de metáforas para atacar a sociedade hipócrita e sexista, denunciar a ausência do Estado no combate aos males sociais e a marginalização, retratar o quão opressor e primitivo é nosso sistema e nossos padrões de “felicidade”.

A mais incrível imagem que o diretor e também roteirista do filme usa seria a de seu cachorro, aquele que está presente em todos os fatos ocorridos. Um animal que se porta de forma tão ‘primitiva’ por meramente seguir seu instinto básico de ser livre, nos mostra o quanto é, na realidade, avançado perante os homens, por simplesmente criarmos mecanismos, instituições, leis, juridições etc que cerceiam nossa liberdade, bloqueiam nossos instintos e padronizam a Linguagem, ou seja, os princípios básicos para sermos inseridos nas sociedades. Godard nos presenteia com uma obra-prima, não palpável para grandes públicos, porém um prato cheio para quem gosta de Cinema com reflexão e debate. “Adeus à Linguagem”, portanto, é uma ode à liberdade, contrário a qualquer tipo de opressão. Bravo!

TRAILER LEGENDADO

 

1 Comment

  1. Pena que no lugar que estreou na minha cidade é tão longe da minha casa que parece uma viagem pro outro lado do mundo.

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