Particularmente, eu já desconfiava do que viria a ser “Batman Vs Superman: A Origem da justiça”, uma mera propaganda midiática de um filme que simplesmente não acontece. A campanha exaustiva de promoção do longa, seus extensos trailers relevando grande parte da trama não são a essência em si do problema. O maior equívoco da produção é justamente se levar muito mais a sério do que de fato é, acreditar na sua profundidade, em suas metáforas, no seu subtexto, entrelinhas da banalidade, escondido em um marketing enganador. O filme não se trata de uma continuação do metido a besta “Homem de Aço (2013)”, tão pouco de um precedente contundente da Liga da Justiça, projeto alfa do estúdio DC/Warner nos próximos anos. Trata-se, substancialmente, de um falso filme de origem, com ecos de prólogo e continuação ao mesmo tempo, tenta ser tudo e ao mesmo tempo é nada. É meramente um produto chique, bem feito, importado e com tons de relevância, propagado exaustivamente e após sua aquisição bate o arrependimento do ato que fizemos: acreditar no marketing.

Dois anos após os incidentes na cidade de Metrópolis, com Superman (Henry Cavill) sendo apresentado para a humanidade como uma divindade, começam discussões sobre sua perigosidade. Dá afinal para controlar um Deus? É uma pergunta que Bruce Wayne/Batman (Ben Affleck) leva bastante a sério, sendo atormentado por sonhos bizarros e megalomaníacos de destruição e rendição da humanidade para a raça superior. Paralelamente, temos o excêntrico para não dizer lunático magnata Lex Luthor (Jesse Eisenberg) querendo achar um jeito de julgar “Deus”, conquistando poder absoluto perante a Terra. O roteiro assinado por Chris Terrio, ganhador do Oscar por seu roteiro de “Argo” até tenta aplicar tons políticos mais embasados referente aos limites do Estado Nacional quanto a Segurança doméstica, a necessidade da proteção junto da responsabilidade de proteger, os limites do homem pelo poder, a influência da figura materna no amadurecer do homem… Enfim, são pontas de uma argumentação bastante contundente, mas que são facilmente jogadas de lado para dar espaço para o gigantismo visual do diretor Zack Snyder, nada mais faz do que iniciar uma explosão em massa, literalmente um Apocalipse filmado com vigor, queimando tudo e todas as bandeiras narrativas e argumentativas nas quais o filme tenta levantar.

É relevante o destrinchamento do desenvolvimento de Batman vs Superman, pois parece haver três filmes tentando acontecer: O primeiro é a (re) introdução do cavaleiro das trevas para o público sob novo detentor do manto do morcego; o segundo é prosseguir com a odisseia do Homem de Aço em auto-aceitação e, sobretudo, se perceber como salvação ao mesmo tempo ameaça para aquele mundo. A terceira e mais importante ao meu ver, infelizmente não ao diretor Zack Snyder, é mostrar a hipocrisia americana em querer ser detentor de soberania universal, não aceitando qualquer limitação. A metáfora do Superman ser aquilo que nem mesmo os Estados Unidos podem controlar é válida e sublima a essência na qual deveria ser o filme: o confronto entre o morcego de Gotham City e o Kryptoniano. A pena é que tal conflito dura uma parcela mínima, é para onde o filme se move para enfim falecer.

Chega a ser irônico, o calcanhar de Aquiles de Batman vs Superman é justamente o confronto anunciado pelo título, propagado pela mídia, exaustivamente repetido como batalha do século. É um equívoco por não se tratar de um confronto, apenas de uma série de manipulações e conspirações em prol de ambições múltiplas. Tudo realmente passa de manipulação, inclusive a atenção dada ao espectador médio que vai aos cinemas em busca de um filme inteiro e encontra pedaços de filmes, sob a tutela de uma edição tenebrosa, praticamente uma colcha de retalhos sem clímax ou empolgação. Há uma apatia predominante, infelizmente, parece estar se tornando comum ao diretor. Se em “Watchmen (2009)” Snyder conseguiu juntar gigantismo visual com emoção usando recursos visuais e musicais, construindo um apunhado de videoclipes inspirados, aqui parece não haver sentimentos, é uma gigante explosão de esterilidade. Ben Affleck está realmente confortável como Batman, Henry Cavill continua inexpressivo e o argumento de compara-lo com Jesus Cristo ou um novo Messias já soa irritante demais. Gal Gadot tem bons momentos embalado por uma ótima música tema -aparentemente-, mas ainda falta muito para mostrar que veio, quem sabe em seu filme solo. Gostei particularmente do Jeremy Irons como Alfred, acredito inclusive que um filme solo do Batman soa muito mais interessante que o agrupamento de um universo defasado e com estruturas frágeis. Já Jesse Eisenberg soa a caricatura da caricatura, idade errada ao papel, desenvolvimento igualmente errado, soa um desastre total.

Há quem diga que não se deve esperar muito de um blockbuster, cheguei a ler que os críticos descontentes com este filme foram “esperando um novo poderoso chefão”. Ora, ano passado tivemos a prova viva que há vida inteligente em filmes comerciais com o sensacional Mad Max – A Estrada da Fúria. Se o longa de George Miller mostrou ser possível juntar grafismo visual ao lado de argumentação potencial, é evidente como não se deve subestimar o público, independente de ser crítico ou comum. Enquanto os estúdios permanecerem com o mercantilismo em arrecadar em detrimento da qualidade narrativa, o Cinema continuará a sair perdendo, ao lado do público. No final das contas, Batman vs Superman não passa de um pesadelo ruim, comandado por Zack Snyder. Com direito a muito mal gosto. Que a chave seja achado nos próximos longas da Warner. Ao menos uma manhã ensolarada perante a escuridão dos pesadelos da DC, nada mais digno. E cada vez mais necessário, diga-se.

Batman vs Superman – TRAILER LEGENDADO

 

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