Título original: Bicho de sete cabeças

Direção: Laís Bodanzky

Roteiro: Luiz Bolognesi

Elenco: Altair Lima, Caco Ciocler, Cássia Kiss, Gero Camilo, Jairo Mattos, Linneu Dias, Luis Miranda, Marcos Cesana, Othon Bastos, Rodrigo Santoro, Valéria Alencar

Produção: Sara Silveira, Caio Gullane, Fabiano Gullane, Luiz Bolognesi, Marco Müller

Estreia no Brasil: 22 de junho de 2001

Gênero: Drama

Duração: 84 minutos

Classificação indicativa: 14 anos

A coluna “Filmes no Divã”, nesta última semana do ano, aborda uma discussão que nunca poderá ser esquecida: uma sociedade sem manicômios. Eu clamo nesta coluna que esta seja uma luta não apenas da área da saúde, mas de todos os sujeitos que se importam com a dignidade e respeito ao próximo.

Para isso, o filme “ Bicho de sete cabeças” retrata de maneira crua e sem cortes a podridão de um manicômio.  Deixo aqui também o link do documentário “Em nome da razão – Um filme sobre os porões da loucura” (1979), filmado em Barbacena (MG) com cenas reais, com humanos reais. Também indico a leitura do livro da Daniela Arbex: Holocausto Brasileiro (2013) para melhor conhecimento das atrocidades dentro de um manicômio.

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No enredo do drama, que foi inspirado no livro “Canto dos Malditos” de Austregésilo Carrano, Neto (Rodrigo Santoro) um adolescente que a sociedade chama de “rebelde” comete pequenos delitos (pichação, uso de maconha), então seus pais tomam uma medida repressora: desumanizar Neto ao trancafiá-lo em um hospital psiquiátrico. No manicômio, Neto conhece uma realidade desumana e vive emoções e horrores que nunca imaginou que pudessem existir numa época dita como de liberdade.

Fazendo um breve retrospecto para chegarmos aos dias atuais, a saúde mental já foi elucidada por muito tempo como sinônimo de loucura, internação e estigma na sociedade. Anteriormente, a mulher que perdia a virgindade antes do casamento, bebês que nasciam com deformidades, moradores de rua e homossexuais eram considerados “doentes mentais” e eram tratados com medicamentos, procedimentos de tortura e, em muitos casos, morte. Dentro deste cenário de desumanidade e condições de trabalho precárias, surge a Reforma Psiquiátrica, movimento idealizado por psicólogos, psiquiatras, enfermeiros e demais profissionais da área de saúde mental. O movimento ampliou a pauta de discussões e reivindicações, propondo a superação radical do modelo psiquiátrico tradicional, e a caminho de políticas públicas voltadas a um melhor amparo de praticidade profissional e de recebimento de atenção às pessoas que necessitavam de uma atenção à saúde de forma a não agredir seu corpo físico e mental.

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Então há de se imaginar que um cenário desumano jamais voltaria a acontecer, mas, a saída obrigatória do grande Roberto Tykanori Kinoshita resultou na “nomeação” do psiquiatra Valencius W. Duarte Filho para a Coordenação Nacional de Saúde Mental. Abrirei espaço para um breve currículo do Sr.Valencius: Colocado no cargo por ser amigo de influentes, não tem artigos científicos, pesquisas e ou trabalhos acadêmicos realizados ou publicados na área de saúde mental, e esteve a frente do maior hospital psiquiátrico da América Latina que foi fechado devido após denúncias de violações de direito contra os usuários.

Fundamentos temos para ir contra um sistema de Q.I, o tão famoso ‘Quem indica’ (aqui não faço referência à estudos, e sim a coleguismo), pois retrocessos na saúde mental são violências nos olhos de profissionais, familiares e usuários que lutam diariamente para serem vistos como sujeitos, e não como loucos. Sujeitos com direitos de ir e vir, expressar sua tristeza e felicidade. Se colocarmos todos os usuários dentro de um hospital psiquiátrico, estaremos tirando o que há de mais belo na vida: o próprio sujeito.

A luta continua mais viva e forte, companheiros!

“”desculpe o transtorno (mental), mas estamos em reforma (psiquiátrica)”

ps: não sei quem é o autor, então quem souber me sinaliza, para que eu possa dar o devido crédito

 

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About the author

Psicanalista. Membro do CEPP- Centro de Estudo e Pesquisa em Psicanálise do Vale do Aço. Membro da curadoria do Los Películas Cineclube. Coordenadora do GT Gênero e Diversidade. Atriz na cia Teatro Nervoso.

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